Saraceni e Jobim - 1960 |
RIO DE JANEIRO - Paulo Cezar Saraceni, morreu no fim de semana aos 78 anos, foi o cineasta mais pobre que já existiu. Não ligava para dinheiro, não acreditava em dinheiro e, não se sabe como, conseguia fazer filmes sem dinheiro. Aliás, sabe-se, sim. Os amigos acreditavam em seus filmes, cachê era o de menos. Esses amigos eram Leila Diniz, Raul Cortez, Marília Pêra, Ney Latorraca, Hugo Caravana, muitos outros mais - e Antonio Carlos Jobim.
Em 1962, antes da explosão de "Garota de Ipanema", os americanos já viam em Jobim o homem de "Desafinado" e "Samba de Uma Nota Só". Para construir sua carreira nos EUA, bastava que ele fosse para lá.
Pois, justo naquele ano em que estava pronto para conquistar o mundo, Tom, num papo casual com Saraceni, provavelmente no Veloso, em Ipanema, ofereceu-se para fazer uma canção para o filme que o amigo estava rodando, chamado "Porto das Caixas". Ofereceu porque gostava de Saraceni. Dali nasceu "Valsa de 'Porto das Caixas'", uma das peças mais bonitas e delicadas da obra de Tom.
Em 1963, com "The Girl from Ipanema" nas paradas e Tom já em Nova York, Hollywood começou a jogar milhões sobre ele para que musicase seus filmes. Tom os recusou, um a um -entre estes, "A pantera Cor de Rosa", naquele ano. e "Um Caminho para Dois", em 1967. Os dois foram para Henry Mancini, que não se importava de fazer o que Tom não faria. "O galã toma o carro e ouve-se uma musiquinha de dez segundos. O galã chega e ouve-se outra musiquinha de dez segundos. Mas isso não é música", Tom dizia.
Veloso, 1970, Tom e Saraceni à mesa. Saraceni fala de seu novo filme "A Casa Assassinada". E Tom oferece-lhe outra canção- que seria "Crônica da Casa Assasinada", lançada no filme e depois ampliada e incluída por Tom no disco "Matita Perê". AMIGO É ASSIM.
(Ruy Castro, Folha de S.Paulo, 18.04.2012)
Paulo Cezar Saraceni (1993 - 2012 ) |
Antonio Carlos Jobim (1927 - 1994) |
TRIBUTO A DUAS GRANDES PERSONALIDADES DA ARTE BRASILEIRA.
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